Resumo
O artigo analisa a presença do homoerotismo na Écloga dos Faunos de Luís de Camões, explorando suas raízes na tradição bucólica clássica e sua relação com a mitologia homoerótica. O estudo examina como a écloga camoniana dialoga com as Bucólicas de Virgílio e os Idílios de Teócrito, utilizando convenções do gênero para inserir um subtexto homoerótico. A análise identifica referências mitológicas do panteão homoerótico articuladas no poema, bem como a dinâmica pederástica sugerida pela dedicatória ao nobre Dom António de Noronha. Além disso, investiga-se o impacto da censura inquisitorial e o uso da mitologia como estratégia para codificar o desejo homoerótico dentro dos limites do discurso renascentista. Conclui-se que a écloga de Camões não apenas perpetua a tradição bucólica, mas também a reinterpreta à luz das convenções e restrições culturais do século XVI.
Referências
ANASTÁCIO, Vanda. Entre pastores e pastoras: disfarce e enigma na poesia bucólica do século XVI. Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, Coimbra, n. 6, p. 51-63, 2006.
BARRETO, João Franco. Micrologia Camoniana. Lisboa: Imprensa Nacional, 1982.
BOLÉO, Manuel de Paiva. O bucolismo de Teócrito e de Vergílio. Coimbra: Biblioteca da Universidade, 1936.
BOSWELL, John. Christianity, social tolerance, and homosexuality: gay people in western Europe from the beginning of the christian era to the fourteenth century. Chicago: University of Chicago Press, 1980.
CAMÕES, Luís de. Rhythmas de Luís de Camões: divididas em cinco partes. Lisboa: Manoel de LYRA, 1595. Exemplar pertencente à Biblioteca Nacional Portuguesa.
CEIA, C Carlos. Bucolismo. In: CEIA, Carlos (coord.). E-dicionário de termos literários (EDTL). 2009. Disponível em: https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/ecloga-ou-egloga/#respond. Acesso em: 14 set. 2021.
CERQUEIRA, Luana Santana Lins. Uma abordagem retórico-comparativa da bucólica II de Virgílio e da bucólica III de Calpúrnio Sículo. Revele: Revista Virtual dos Estudantes de Letras, Belo Horizonte, v. 9, p. 140-57, 2015. Doi: https://doi.org/10.17851/2317-4242.9.0.140-157
FRAGA, Maria do Céu. Éclogas. In: AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel de. Dicionário de Luís de Camões. São Paulo: Leya, 2011. p. 323-327.
FRANCO, Marcia Arruda. 5 variações de “Comigo me desavim”. Tágides: Revista De Literatura, Cultura e Arte Portuguesas, São Paulo, p. 133-66, 2011.
GAILLARD, Jacques; MARTIN, René. Les genres littéraires à Rome. Paris: Nathan, 1991.
GREENFELD, John. O género literário: norma e transgressão. Lisboa: Fundação para Ciência e Tecnologia, 2006.
HART, Thomas R. Camões’ Égloga dos Faunos. Bulletin of Hispanic Studies, Liverpool, n. 53, p. 225-231, 1976.
HORNBLOWER, Simon; SPAWFORTH, Antony (ed.). The Oxford classical dictionary. 4th ed. Oxford: Oxford University Press, 2012.
HUE, Sheila Moura. Em busca do cânone perdido. Manuscritos e impressos quinhetistas: das variantes textuais e das atribuições autorais. Revista Eletrónica de Estudos Literários, Vitória, n. 5, p. 1-18, 2009.
HUE, Sheila Moura. Rhythmas de Luís de Camões (1595). In: AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel de. Dicionário de Luís de Camões. São Paulo: Leya, 2011. p. 857-66.
LOURENÇO, Frederico. Amor. In: AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel de. Dicionário de Luís de Camões. São Paulo: Leya, 2011. p. 24-27.
LOURENÇO, Frederico. Pode um desejo imenso. Lisboa: Cotovia, 2002.
MARNOTO, Rita. A Arcádia de Sannazaro e o bucolismo. Coimbra: Gabinete de Publicações da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), 1996.
MARNOTO, Rita. Corte e literatura no Renascimento. O Marrare, Rio de Janeiro, n. 15, p. 36-40, 2011.
MARNOTO, Rita. Heranças bucólicas na Arcádia Lusitana. Estudos Italianos em Portugal, Lisboa, n. 3, p. 117-32, 2008.
MATOS, Maria Vitalina Leal de. Biografia de Luís de Camões. In: AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel de. Dicionário de Luís de Camões. São Paulo: Leya, 2011. p. 80-94.
OVÍDIO. Metamorfoses. Tradução de Domingos Lucas Dias. São Paulo: Editora 34, 2017.
PRESCOTT, H. W. A study of the Daphnis-Myth. Harvard Studies in Classical Philology, Cambridge, v. 10, p. 121-40, 1899.
PUPILLO, Matteo. “Tudo, como vês, é cheio de tristura: às abelhas o campo nega as flores, / e às flores a aurora nega o orvalho” para uma leitura ecocrítica da écloga camoniana Que grande variedade vão fazendo. Humanitas, Coimbra, n. 84, p.121-40, 2024. Doi: https://doi.org/10.14195/2183-1718_84_7
RAMALHO, Américo da Costa. O mito de Actéon em Camões. Humanitas, Coimbra, v. 19-20, p. 51-72, 1967.
RODRIGUES, Marina Machado. Uma abordagem filológico-literária da Écloga Camoniana “A quem darei queixumes namorados”. 2006. Tese (Doutorado em Letras) - Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2006.
SUMMERS, Claude J. Homosexuality and Renaissance Literature, or the Anxieties of Anachronism. South Central Review, Baltimore, v. 9, n. 1, p. 2-23, 1992.
TORREJÓN, José Miguel Martínez. ‘Strewing words in the wind’: Desire, rhetoric and frustration in Camões’s Égloga dos Faunos. Portuguese Studies, London, n. 12, p. 25-39, 1996.
VIRGÍLIO. Bucólicas. Tradução de Frederico Lourenço. Lisboa: Quetzal, 2021.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2025 Maria Clara Ramos Morales Crespo, Marcia Arruda Franco