Resumo
A poesia de Luís de Camões se caracteriza por trabalhar, muitas vezes de modo dialético, alguns pares. Um deles, não necessariamente explorado à exaustão pelo poeta, mas aberto a uma leitura atenta, é o das duas mãos. A imagem do próprio poeta, com suas mãos em papel importante, é objeto de um dos mais famosos retratos que Camões mereceu – nele, é tematizada uma necessidade vital muito básica, que o poeta faz conviver, em sua obra, com algumas nobrezas, sobretudo a da experiência amorosa. O que está em jogo, na fome de alimento e no desejo, é o corpo. Por isso, ler imagens-chave do soneto “Bem sei, Amor, que é certo o que receio”, especialmente a imagem da mão no seio, em articulação com outros momentos da poesia camoniana, pode ser uma porta (giratória) de entrada para zona significativa dessa obra.
Referências
BÍBLIA. Novo Testamento: os Quatro Evangelhos. Trad. Frederico Lourenço. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
CAMÕES, Luís de. Rimas. Ed. Álvaro J. da Costa Pimpão. Coimbra: Almedina, 2005.
GRAÇA MOURA, Vasco. Retratos de Camões. Lisboa: SPAutores; Guerra e Paz, 2014.
HELDER, Herberto. Poesia toda. Lisboa: Assírio & Alvim, 1996.
HELDER, Herberto. Poemas completos. Porto: Porto Editora, 2014.
HORTA, Maria Teresa. Ambas as mãos sobre o corpo. Lisboa: Europa-América, 1972.
JORGE, Luiza Neto. Poesia. 2. ed. Lisboa: Assírio & Alvim, 2001.
MAFFEI, Luis. Coisas que juntas se acham – com Camões. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2025 (no prelo).
MARNOTO, Rita. Comentário a “Cinco galinhas e meia”. In. MARNOTO, Rita (org.). Comentário a Camões: sonetos, redondilhas. Coimbra: Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos; Genève: Centre d’Études Lusophones, 2016. v. 4, p. 55-61.
SENA, Jorge de. Antigas e novas andanças do demônio. 4. ed. Lisboa: Edições 70, 1984.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2025 Luis Maffei