Resumo
O artigo propõe uma leitura cerrada e imanente do episódio da Ilha dos Amores em Os Lusíadas, articulando os estudos de gênero à filosofia de Deleuze. Ao analisar figuras como Vênus e as ninfas, o texto evidencia como essas personagens, longe de serem meros adornos ou prêmios, funcionam como potências simbólicas de agência, desejo e memória poética. A leitura recusa interpretações alegóricas ou funcionalistas, sugerindo que o erotismo operado no poema atua como linguagem de consagração e glória, desestabilizando a lógica patriarcal da épica tradicional. O estudo incorpora reflexões de autoras como Cleonice Berardinelli, Paula Cunha e Rafaella Teotônio, revelando como o feminino, em Camões, é força de composição estética e narrativa. Dessa forma, o poema é interpretado como campo de tensão entre tradição e subversão, cujos ecos ressoam nas leituras contemporâneas da literatura e do poder.
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